domingo, 8 de novembro de 2009

Mito e religião

Alguns especialistas, como Mircea Eliade, estudioso de história comparada das religiões, atribuem importância especial ao contexto religioso do mito. Com efeito, são muito frequentes os mitos que versam sobre a origem dos deuses e do mundo (chamados, respectivamente, mitos teogônicos e cosmogônicos), dos homens, de determinados ritos religiosos, de preceitos morais, tabus, pecados e redenção. Em certas religiões, os mitos formam um corpo doutrinal e estão estreitamente relacionados com os rituais religiosos -- o que levou alguns autores a considerar que a origem e a função dos mitos é explicar os rituais religiosos. Mas tal hipótese não foi universalmente aceita, por não esclarecer a formação dos rituais e porque existem mitos que não correspondem a um ritual.

O mito, portanto, é uma linguagem apropriada para a religião. Isso não significa que a religião, tampouco o mito, conte uma história falsa, mas que ambos traduzem numa linguagem plástica (isto é, em descrições e narrações) uma realidade que transcende o senso comum e a racionalidade humana e que, portanto, não cabe em meros conceitos analíticos. Não importa, do ponto de vista do estudo da mitologia e da religião, que Prometeu não tenha sido realmente acorrentado a um rochedo com um abutre a comer-lhe as entranhas, nem que Deus não tenha criado o ser humano a partir do barro. Religião e mito diferem, não quanto à verdade ou falsidade daquilo que narram, mas quanto ao tipo de mensagem que transmitem.
A mensagem religiosa geralmente exige determinado comportamento perante Deus, o sagrado e os homens, e é, muitas vezes, formulada de forma compatível com conceitos racionais e em doutrinas sistematizadas. O mito abrange maior amplitude de mensagens, desde atitudes antropológicas muito imprecisas, até conteúdos religiosos, pré-científicos, tribais, folclóricos ou simplesmente anedóticos, que são aceitos e formulados de modo menos consciente e deliberado, mais espontâneo, sem considerações críticas.

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